No dia em que os palestinianos foram portugueses
O Lusitânia Expresso
Já vai longe na memória dos portugueses aquele dia de 1992 em que o Lusitânia Expresso, um ferry-boat para transporte de passageiros e veículos zarpou rumo a Timor-Leste, numa acção de protesto ao massacre de timorenses no cemitério de Santa Cruz, Dili, pelas tropas indonésias. Mas deixemos a Wikipédia relembrar-nos os factos:
“A viagem do Lusitânia Expresso a Timor foi uma iniciativa da equipa da revista Fórum Estudante, com o objectivo de sensibilizar a opinião pública internacional para a causa de Timor, que contou com o apoio de várias figuras públicas, nomeadamente o ex-presidente da República de Portugal, General Ramalho Eanes.
Mobilizou 120 estudantes, de 23 países, que partiram de Portugal com o objectivo de colocar uma coroa de flores no local do massacre, e, assim atrair a atenção dos media sobre a temática da opressão do povo de Timor-Leste.
Na sua última etapa com largada de Darwin a 9 de Março de 1992, após 3 meses de viagem, o Lusitânia Expresso foi sobrevoado por aviões militares indonésios e interceptado no dia 11 de Março, à entrada das águas territoriais de Timor, por quatro navios de guerra indonésios. Após lançar flores ao mar, em memória dos mortos de Timor-Leste, o Lusitânia Expresso foi obrigado a regressar a Portugal.
Embora não atingisse o objectivo de chegar a Dili, em Timor-Leste, a viagem do Lusitânia Expresso conseguiu mobilizar as atenções da imprensa internacional para a situação dramática em que vivia o povo de Timor, contribuindo de certa forma para a retirada da Indonésia e a independência da última colónia Portuguesa.”
Lusitânia Expresso x Mavi Marmara
Comparando o recente episódio ao largo da Faixa de Gaza que envolveu o Mavi Marmara, e aquele junto a águas indonésias com o Lusitânia Expresso, são óbvias as semelhanças entre as duas missões:
- Ambas se serviram de meios navais civis para levarem a cabo os seus intentos.
- Ambas chamaram a atenção da opinião pública mundial, servindo-se da presença massiva dos mídia.
- Ambas estavam rotuladas de pacifistas.
- Ambas declararam que a missão já era, por si só, uma vitória, independentemente dos resultados.
- Ambas contavam com o patrocínio de personagens relevantes da sociedade civil.
- Ambas tinham conhecimento prévio de que não lhes seria permitido chegar ao destino pretendido.
- Ambas tiveram de responder de forma clara, quando confrontadas com essa proibição.
E, de semelhanças, ficamos por aqui.
Perder e Ganhar
É a partir do momento que foi ordenado aos navios para darem meia-volta, tanto pelos indonésios em 1992, como pelos israelitas em 2010, que tudo se precipitou, para o melhor e para o pior.
Perante a imposição dos indonésios, o Lusitânia Expresso regressou ao porto de origem. Contrariamente, o Mavi Marmara recusou fazê-lo. Recusou de forma clara, já que não inverteu a rota, e recusou verbalmente, porque os mídia fizeram eco da resposta negativa. O desfecho é mais do que conhecido.
Pergunta-se: No caso português, foi a imagem dos 120 estudantes ou a do próprio General Ramalho minimamente beliscada? Não! Foi de derrota o sentimento geral? Não! E porquê? Porque a operação "Missão Paz em Timor” bastou-se a si mesma. Foi uma vitória num contexto de vitórias. Chamou-se a atenção do mundo para um problema, mas respeitou-se a integridade de todos os que tomaram parte na missão. E esta, tanto quanto os envolvidos, saiu prestigiada e a ganhar.
Este não era o Barco do Amor
Agora, o Mavi Marmara. Se, como foi afirmado anteriormente, a operação em si mesma já era um sucesso, por que é que os tripulantes não acataram as ordens israelitas?
- Em primeiro lugar, aquelas declarações nunca tiveram qualquer valor. Os “pacifistas” sempre tiveram muito mais em mente. Construíram o êxito que lhes pareceu maior: na certeza de não chegarem a Gaza, provocaram a “violência israelita”, e tornaram-se “vítimas” dela. Para além disso, a bênção dos midia estava garantida: com o mundo a observar, o momento tinha de ser de vitória a bem ou vitória a mal. Daí que, antes de partirem para alto-mar, as imagens mostravam já os que afirmavam claramente “o martírio, ou Gaza”!
- O Mavi Marmara transportava gente que se tinha “aviado em terra para ir ao mar”. Sabiam que os confrontos eram inevitáveis, face às posições que iam provocar. Mas não levaram só as fundas de David. Antes da chegada das tropas, as imagens mostravam os “pacifistas” a preparar as barras de ferro, as garrafas, as fisgas, as navalhas, as correntes, o material explosivo, para não falar das cápsulas de balas encontradas depois, e que, não pertencendo às IDF, prova que também havia armas (certamente pacíficas ?) a bordo. Depois foi o que se viu.
- O Mavi Marmara transportava civis numa “guerra santa”, mas que, na verdade, estavam cinicamente destinados a servir como escudos-humanos. O mundo ouviu e hipocritamente aceitou como natural a inocente (???) informação de que “mulheres, crianças e velhos” viajavam no navio. Isso foi reportado pelo operador de câmara libanês da Al-jazeera TV, Andre Abu Khalil. Mulheres, crianças e velhos? Que espécie de homens colocam as suas mulheres, os seus filhos ou os seus pais em tal cenário, quando sabem que ele vai ser palco de uma guerra? A verdade é que se tentou criar as balas perdidas que poderiam ter colocado em delírio o Ocidente anti-semita e o mundo árabe … Que mentalidade é esta, para quem a vida humana não tem valor, e que se esconde atrás de mulheres, crianças e velhos? Que gente é esta, que esconde arsenais em escolas, mesquitas e hospitais? Que gente é esta que, nunca se assumindo pessoalmente como mártires, aponta o caminho aos outros?
O Hamas decidiu: A Ajuda Humanitária não entra em Gaza
Para lá destes incidentes, e certamente na posse de relatórios e vídeos de prova, o primeiro-ministro Netanyahu, referindo-se ao Mavi Marmara, disse à Nação: "Este não era o Barco do Amor”.
Para lá destes incidentes, e confirmado que a ajuda humanitária o era realmente, ela foi colocada em 21 camiões e colocada à disposição do Hamas, na fronteira, pronta a entrar em Gaza. Resposta do Hamas? O Hamas não autorizou a entrada da ajuda humanitária no território, sob o pretexto de que “a decisão de Israel em permitir a entrada da ‘ajuda’ é uma ‘manobra de diversão’ para desviar as atenções do ‘massacre’ que teve lugar em mar alto.”
A História mostra que culpar o judeu de tudo aquilo que afecta a humanidade é o comportamento típico de quem pensa com uma mente primitiva, e a atitude mais desumana de quem sente com um coração racista. Através dos tempos, o judeu tem sido o bode expiatório ideal, e alguns acreditam nisso religiosamente.
A Peste Negra? O judeu foi culpado.
Jesus Cristo? O judeu foi culpado.
O Holocausto? O judeu foi culpado.
A Economia Mundial? O judeu é culpado.
Os palestinianos? O judeu é culpado.
A Fome? O judeu é culpado.
O aquecimento global? O judeu é culpado.
A Ajuda Humanitária não chega a Gaza? O judeu é culpado.
A Ajuda Humanitária chegou a Gaza? O judeu é culpado.
... Vídeos para quê? ...
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Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2010
Viagem ao Israel Bíblico 2010
I - SÓ ISRAEL – 18 a 25 de AGOSTO de 2010
18 AGOSTO – LISBOA > TEL AVIV
Comparência no aeroporto de LISBOA. Embarque para TEL AVIV, com saída às 16H45. Mudança de avião em Madrid. Partida às 23H30. Ceia.
19 AGOSTO – JAFFA > TEL AVIV > CESARÉIA > MEGGIDDO > CARMELO > NAZARÉ > TIBERÍADES
Chegada a Tel Aviv às 05H05. Desembarque e transfer para Hotel em Tel Aviv para pequeno-almoço. Início das visitas guiadas à cidade de JAFFA, a antiga Jope, onde Jonas foi cuspido da baleia e onde o apóstolo Pedro teve a visão do lençol cheio de animais imundos. Vista panorâmica de TEL AVIV. Visita à antiga cidade romana de CESARÉIA MARÍTIMA, antiga capital, onde Paulo esteve preso antes de embarcar para Roma. Visita ao teatro, ruínas, e aqueduto. Continuação até MEGGIDDO. Almoço e visita às ruínas desta cidade fortaleza do tempo do rei Salomão. Subida ao miradouro, de onde se avista todo o vale de Meggiddo, onde se travará a batalha do ARMAGEDON. Descida pelo túnel de Ezequias, e continuação até ao MONTE CARMELO, local onde o profeta Elias confrontou e venceu os profetas de Baal. Continuação até NAZARÉ, para visita à aldeia de Jesus, uma reconstituição da vida na pequena aldeia de Nazaré, como era nos dias de Jesus. Continuação até TIBERÍADES. Jantar e alojamento no Hotel.
20 AGOSTO – GALILÉIA > LAGO DE TIBERÍADES > BANIAS > TIBERÍADES
Pequeno-almoço no Hotel. Visita aos locais na GALILÉIA onde Jesus desenvolveu o Seu ministério: MONTE DAS BEM AVENTURANÇAS, com tempo para orações. Visita à Igreja em TABGHA, que assinala o local do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Visita ao lago, e às ruínas da cidade de CAFARNAUM, com a antiga sinagoga e a casa de Pedro. Travessia do MAR DA GALILÉIA em barco de madeira, réplica dos que se usavam nos dias do Senhor. Almoço e visita ao kibbutz de EIN GEV. Continuação para BANIAS, a antiga CESARÉIA FILIPOS, onde Pedro confessou a Cristo como Senhor. Visita às antigas ruínas. Regresso a TIBERÍADES. Jantar e alojamento no Hotel.
21 AGOSTO – RIO JORDÃO > JERICÓ > MASSADA > QUMRAN > MAR MORTO > JERUSALÉM
Pequeno almoço no Hotel. Visita ao rio JORDÃO com possibilidade de realização de baptismos. Passagem por JERICÓ. Continuação até ao MAR MORTO. Subida em teleférico até MASSADA para visita à impressionante cidade fortaleza edificada pelo rei Herodes, e onde 960 judeus preferiram a morte colectiva à rendição aos romanos. Almoço. Visita às ruínas de QUMRAN, onde vivia uma comunidade essénia que se dedicava a uma vida austera e a copiar manuscritos da Bíblia. Descida até ao MAR MORTO, o local mais profundo da terra! Tempo para banhos nesta água onde ninguém afunda! Subida até à capital eterna de Israel, JERUSALÉM! Jantar e alojamento no Hotel.
22 AGOSTO – JERUSALÉM
Pequeno-almoço no Hotel. Visita aos locais mais importantes da Cidade do Senhor: Igreja do PATER NOSTER, MONTE SCOPUS, de onde se avistará toda a cidade santa. Descida ao MONTE DAS OLIVEIRAS, e entrada no HORTO DO GETSEMANE, para meditação e oração. MONTE SIÃO, com visitas ao túmulo do rei David e ao Cenáculo, local da última Ceia. Almoço e visita à cidade de BELÉM. Travessia do controle fronteiriço, e visita à Igreja da Natividade e ao campo dos pastores. Subida ao HERODIUM, onde se encontram os túmulos da família do rei Herodes o Grande. Tempo para compras em BELÉM e regresso a JERUSALÉM. Jantar e alojamento no Hotel.
23 AGOSTO – JERUSALÉM
Pequeno-almoço no Hotel. Visita ao MURO DAS LAMENTAÇÕES e subida à esplanada do templo, actualmente ocupada pelas mesquitas de Omar e El Aqsa. (entradas não incluídas). Descida ao Museu Ophel, com representação visual do que era a vida no templo de Jerusalém nos dias de Jesus. Visita às ruínas do parque arqueológico, incluindo os degraus que ascendiam ao templo. Visita à cidade de David e ao tanque de Siloé. Almoço. Visita ao Temple Institute, onde se encontram os artefactos para o 3º Templo. Saída até ao Jardim do Túmulo, para visita ao túmulo vazio de Jesus e celebração da Ceia do Senhor. Jantar e alojamento no Hotel.
24 AGOSTO – JERUSALÉM
Pequeno-almoço no Hotel. Visita à maquete que representa Jerusalém como era nos dias de Jesus. Visita ao Museu do Livro, onde se encontram antigos manuscritos da Bíblia e ao Museu e Memorial do Holocausto. Almoço. Saída até às piscina de BETESDA e Via Dolorosa, até ao Local da flagelação. Descida ao piso dos dias do Senhor, com marcas gravadas que indicam o local onde o Senhor Jesus foi flagelado e julgado. Jantar e alojamento no Hotel.
25 AGOSTO – EIN KAREM > YAD HASHMONA > AEROPORTO > LISBOA
Pequeno-almoço no Hotel. Visita a EIN KAREN, a aldeia natal de João Baptista e ao parque bíblico de YAD HASHMONA, uma aldeia comunitária de judeus messiânicos. Almoço e partida para o aeroporto de Ben Gurion. Embarque no voo para LISBOA, com mudança de avião em Madrid. Refeição a bordo. Chegada a Lisboa pelas 23H10. Desembarque. Fim da excursão.
SUPLEMENTO PARA QUARTO INDIVIDUAL: 250,00 €
25 AGOSTO - JORDÂNIA > GERASA > MONTE NEBO > MADABA > PETRA
Pequeno almoço no hotel. Viagem até à fronteira da JORDÂNIA. Formalidades e partida para GERASA, uma das antigas cidades da Decápolis e onde se encontram as maiores ruínas de todo o Médio Oriente. Almoço. Continuação para o MONTE NEBO, local de onde Moisés avistou a Terra Prometida. Continuação para MADABA e visita ao famoso mosaico com a representação de todo o Israel. Prosseguimento até PETRA. Jantar e alojamento no Hotel.
26 AGOSTO - PETRA > AQABA > EILAT
Pequeno almoço no Hotel. Saída guiada para visita à antiga cidade de PETRA, a capital dos Nabateus, considerada actualmente uma das “7 maravilhas do mundo”, e toda edificada na pedra rósea. Almoço. Viagem até ao Mar Vermelho e travessia da fronteira em Aqaba. Formalidades e entrada em Israel. Jantar e alojamento no Hotel em EILAT, próximo ao MAR VERMELHO.
27 AGOSTO – EILAT > TIMNA > TABERNÁCULO > CRATERA RAMON > BERSHEVA > JUDEIA
Pequeno-almoço no Hotel. Passagem por EILAT e continuação para TIMNA e vista dos famosos “pilares de Salomão”. Visita guiada ao TABERNÁCULO NO DESERTO, uma representação em tamanho real do tabernáculo construído pelos israelitas. Vista da cratera de Ramon e almoço. Continuação para BERSHEVA, a cidade de Abraão. Continuação para YAD HASHMONA, uma aldeia comunitária de judeus messiânicos. Jantar e alojamento.
28 AGOSTO –YAD HASHMONA > AEROPORTO > LISBOA
Pequeno-almoço no alojamento. Visita ao parque bíblico de YAD HASHMONA. Almoço e partida para o aeroporto de Ben Gurion. Embarque no voo para LISBOA, com mudança de avião em Madrid. Refeição a bordo. Chegada a Lisboa pelas 23H10. Desembarque. Fim da excursão.
SUPLEMENTO PARA QUARTO INDIVIDUAL: 100,00 €
OS PREÇO DESTE SUPLEMENTO INCLUEM:
- Alojamento em quartos duplos com banho e ar condicionado em hotéis de 4 ****;
- Todas as refeições desde o pequeno almoço do 1º dia ao almoço do último dia;
- Todo o percurso mencionado no programa em autocarro de luxo com ar condicionado;
- Todas as entradas nos museus, parques e sítios incluídos no programa;
- Taxas de fronteira de saída de Israel, Jordânia e visto para a Jordânia;
- Guia em língua espanhola (Jordânia) durante todo o percurso;
- Seguro de viagem;
NÃO INCLUEM:
- Bebidas às refeições
- Todas as despesas de carácter pessoal (telefone, lavandaria, etc.)
- Gorjetas ao guia e motorista.
Terça-feira, 26 de Maio de 2009
José Brito Mendes - Um Justo Português
Com a devida autorização da autora, a quem muito agradecemos, publicamos hoje o artigo "José Brito Mendes – Um justo português", de Esther Mucznik*, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa.A história é, só por si, um pequeno hino àquele amor que age e nunca espera nada em troca. Surpreende o facto de Portugal desconhecer este herói, que o próprio Estado de Israel, através do Museu do Holocausto – Yad Vashem agraciou em 2004, como um "Justo entre as nações". Antes dele, entre nós, apenas Aristides de Sousa Mendes foi reconhecido como um "gentio justo".
Mas existe uma razão para esse desconhecimento: José Brito Mendes, na listagem dos heróis do Holocausto com o Dossier n° 10184, consta como francês... Hilariante, bizarro, ou simplesmente natural???.
José Brito Mendes emigrou para França em 1926, onde casou com uma francesa, Marie-Louise, e de quem teve um filho, Jacques. Viviam em St. Ouen, nos arredores operários de Paris. Mesmo em frente à sua casa vivia um casal de judeus polacos, Aron e Fojgel Berkovic, com a filha Cécile, nascida em 1937. Aron era sapateiro e tinha uma pequena oficina na mesma rua onde moravam. Daí assistia às brincadeiras de Cécile e Jacques, praticamente criados juntos naquele bairro onde se aglomeravam, na época, imigrantes espanhóis e italianos, portugueses e polacos.
Mas em 1942, a 15 de Junho, Aron é deportado e morre em Auschwitz. A sua mulher Fojgel esconde-se algures em Paris, mas antes confia Cécile à guarda da família Brito Mendes, numa tentativa desesperada de a salvar. E com efeito, meses depois, apesar de escondida, Fojgel é presa e levada para o campo de trânsito de Drancy, de onde partiam os transportes para os campos de extermínio. Antes da sua partida, José Brito leva Cécile ver a mãe uma última vez: tem já cinco anos, mas já sabe que não a pode chamar de mãe. Pela sua segurança e pela segurança de José. Tem de esconder que é judia, fingir que é prima de Jacques e que o seu nome é Bellouin – nome de solteira de M. Louise. Mas as crianças aprendem depressa…
A família Brito toma conta de Cécile, como uma filha – apesar dos cartões de racionamento e do perigo sempre iminente de uma rusga policial, porque quem esconde judeus corre o risco de ser deportado. Esta acontece efectivamente em 1943 devido a uma denúncia, mas a Gestapo não encontra Cécile, momentaneamente ausente. Para José Brito é o sinal de alarme: Cécile e Jacques são enviados para a província, onde ficam em casa de familiares do casal.
O tempo passa, a guerra acaba, os pais de Cécile não voltam e o casal Brito prepara-se para adoptar a criança. Mas do campo de concentração de Dachau chega um sobrevivente da família: um tio de Cécile, que obtém a sua guarda e a leva para os Estados Unidos, para bem longe das sombras da Europa… e dos Brito Mendes que nunca se consolarão verdadeiramente da dor da sua perda. Cécile nunca mais viu a família que a salvou. Nos Estados Unidos, mudou de nome, estudou, exerceu advocacia, casou e teve duas filhas. Voltou a França em 1987 à procura dos Brito Mendes, mas não os encontrou. Morreu sem os rever.
Jacques continuou sempre à procura da irmã perdida. Não a encontrou mas, em 2002, graças à Internet e às associações das Crianças Escondidas, descobriu as filhas de Cécile, que, embora ao corrente de que ela nascera em França e que os avós tinham sido mortos em Auschwitz, nada mais sabiam sobre o passado francês da sua mãe. "Ela não falava nunca", explica Cara, filha de Cécile. "Era a época em que ficou órfã e o sofrimento permaneceu muito vivo." Para Jacques, encontrar as filhas de Cécile foi "um vazio que se encheu com o que se tornou Cécile, a sua vida". "O tempo passou, muitos actores desta história estão mortos, mas, se os nossos filhos se conhecerem, a história continua".
Em 2004, devido aos esforços de Cara, a filha americana de Cécile, o Yad Vashem, Autoridade Nacional para a memória dos Mártires e Heróis do Holocausto, de Jerusalém, atribuiu a José e a Marie-Louise Brito Mendes o título de "Justo entre as Nações" – já desde 1967 também atribuído a outro português, Aristides de Sousa Mendes – por, "arriscando a própria vida, terem salvo judeus perseguidos durante o período da Shoah na Europa". O diploma de honra a eles atribuído refere ainda que "o seu nome será homenageado para todo o sempre, e gravado no Muro dos Justos das Nações no memorial Yad Vashem em Jerusalém".
Porquê contar hoje e aqui esta história? Em primeiro lugar, porque é uma história bonita que trata da bondade humana. Numa época em que esta era um acto demasiado solitário, em que grassava o medo ou a indiferença, a denúncia e a colaboração, não é demais lembrar que a bondade também existiu. Os Brito Mendes eram certamente pessoas simples, não foram heróis da Resistência, mas à sua maneira foram dos poucos a praticar o lema do Yad Vashem retirado do Talmude: "Quem salva uma vida salva toda a humanidade."No memorial de Jerusalém estão gravados os nomes de dois portugueses. Mas muitos mais foram sensíveis ao sofrimento de judeus e não judeus que fugiam das garras do nazismo. Segundo Avraham Milgram, historiador do Yad Vashem – a quem devo o conhecimento da história que hoje divulgo entre os leitores portugueses –, em Fevereiro de 1941, a PVDE (Policia de Vigilância e Defesa do Estado) comunicou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que "os consulados de Portugal em Milão, Budapeste, Bucareste e Antuérpia estão a conceder vistos em passaportes de estrangeiros, fora das instruções superiormente recebidas".O que, do ponto de vista de Milgram, mostra que o desrespeito às ordens recebidas era um fenómeno amplamente difundido nos meios consulares. Em geral, as representações consulares portuguesas eram sensíveis ao destino dos judeus. Não encontramos no arquivo histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros documentos que testemunhem preconceitos ou atitudes anti-semitas da parte de cônsules portugueses no exterior, da mesma forma que não havia denominador comum – ideológico ou político – entre os diplomatas portugueses que ajudaram judeus a sair da Europa via Portugal.
"A compaixão pelo sofrimento alheio, no caso dos judeus, era comum ao monárquico Aristides de Sousa Mendes, ao anti-marxista Alfredo Casanova, ao republicano Alberto da Veiga Simões, ao liberal Giuseppe Agenore Magno", escreve A. Milgram. Poder-se-ia acrescentar Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho em Budapeste, entre outros dos serviços consulares de Portugal.
A perseguição e a destruição dos judeus produziu atitudes diametralmente opostas: o mal absoluto e a compaixão humana. Hoje, prefiro lembrar a compaixão humana na pessoa de José de Brito Mendes, um "justo" português.
Publicado no Jornal Público, em 10 de Novembro de 2006
Discurso do Primeiro Ministro Australiano à comunidade muçulmana
à comunidade muçulmana
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Quem está mal que se mude e o mais rapidamente possível.
Que se acabe com a demagogia também de uma vez para sempre.
Aos Muçulmanos que querem viver de acordo com a lei do Sharia Islâmico foi-lhes dito muito recentemente para deixarem a Austrália, no âmbito das medidas de segurança tomadas para continuar a fazer face aos eventuais ataques terroristas.
Aparentemente, o Primeiro Ministro John Howard chocou alguns muçulmanos australianos declarando que apoiava agências-espiãs encarregadas de supervisionar as mesquitas da nação. Citação:
"Os imigrantes não-Australianos, devem adaptar-se. É pegar ou largar! Estou cansado de saber que esta nação se inquieta ao ofendermos certos indivíduos ou a sua cultura. Desde os ataques terroristas em Bali, assistimos a uma subida de patriotismo na maioria do Australianos.’
"A nossa cultura está desenvolvida desde há mais de dois séculos de lutas, de habilidade e de vitórias de milhões de homens e mulheres que procuraram a liberdade.’
"A nossa língua oficial é o Inglês; não é o Espanhol, o Libanês, o Árabe, o Chinês, o Japonês, ou qualquer outra língua. Por conseguinte, se desejam fazer parte da nossa sociedade, aprendam a nossa língua!’
"A maior parte do Australianos crê em Deus. Não se trata de uma obrigação cristã, de influência da direita ou pressão política, mas é um facto, porque homens e mulheres fundaram esta nação sobre princípios cristãos, e isso é ensinado oficialmente. É perfeitamente adequado afixá-lo sobre os muros das nossas escolas. Se Deus vos ofende, sugiro-vos então que encarem outra parte do mundo como o vosso país de acolhimento, porque Deus faz parte da nossa cultura.’
"Nós aceitaremos as vossas crenças sem fazer perguntas. Tudo o que vos pedimos é que aceitem as nossas e vivam em harmonia e em paz connosco.
"Este é o nosso país, a nossa terra, e o nosso estilo de vida. E oferecemos-vos a oportunidade de aproveitar tudo isto. Mas se vocês têm muitas razões de queixa, se estão fartos da nossa bandeira, do nosso compromisso, das nossas crenças cristãs, ou do nosso estilo de vida, incentivo-os fortemente a tirarem partido de uma outra grande liberdade australiana: O direito de partir. Se não são felizes aqui, então partam. Não vos forçámos a vir para aqui. Vocês pediram para vir para cá. Então, aceitem o país que vos aceitou."
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Sexta-feira, 8 de Maio de 2009
Pesach Sheni – A Segunda Páscoa
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Pesach Sheni – A Segunda Páscoa
Constantino, o primeiro Imperador cristão, escreveu, numa mensagem ao clero presente no I Concílio de Niceia em 325 a.D. que os judeus "...não possuem a verdade na questão da Páscoa, porque, em sua cegueira ... ... frequentemente celebram duas Páscoas no mesmo ano." Pois bem, o que dizer desta afirmação? Simplesmente... que está correcta! No entanto, expliquêmo-nos melhor, já que a conclusão de Constantino não é tão linear quanto parece...
Como ponto de partida, eis um aspecto muito importante a considerar: a segunda Páscoa, ou Pesach Sheni, não é fruto de invenções da religião hebraica, nem é um ritual infundado, nem nasceu da tradição popular. Por outras palavras, os judeus, eles mesmos, não são responsáveis pela sua existência. Como surge então? Muito simples: foi Deus quem fez essa promulgação! A "segunda" Páscoa foi instituída por Deus, da mesma forma que Ele também instituiu "A" Páscoa!!!
De seguida, faremos a prova de tal afirmação. Mas antes, vamos enquadrar os factos. Tudo teve o seu início quando Israel, já livre da servidão do Egipto, em pleno deserto há um ano, se preparava para celebrar a sua redenção como povo, a libertação, a Páscoa. Deus deu, então, mais orientações para o povo. Mas, deixemos a Bíblia falar:
"E falou o SENHOR a Moisés no deserto do Sinai, no segundo ano da sua saída da terra do Egipto, no primeiro mês, dizendo: Que os filhos de Israel celebrem a Páscoa a seu tempo determinado. No dia catorze deste mês, pela tarde, a seu tempo determinado a celebrareis; segundo todos os seus estatutos e segundo todos os seus ritos, a celebrareis. Disse, pois, Moisés aos filhos de Israel que celebrassem a Páscoa. Então, celebraram a Páscoa no dia catorze do primeiro mês, pela tarde, no deserto do Sinai; conforme tudo o que o SENHOR ordenara a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel." (Números 9:1-5)Vemos, então, que todos os requisitos para a celebração pascal estavam a ser cumpridos pelo povo. Era a sua primeira celebração no deserto, e as determinações divinas estavam bem frescas na memória colectiva. O povo fortalecia-se. Muitos nasciam no caminho, mas a morte também não deixava de trabalhar. Na sua ceifa incessante de vidas humanas, muitos israelitas, parentes ou amigos dos que partiam, tinham-se tornado ritualmente impuros pelo contacto com esses corpos que partiam para sempre, a ponto de não poderem obedecer aos preceitos da grande festa, ou sequer de estarem presentes.
"E houve alguns que estavam imundos pelo corpo de um homem morto; e no mesmo dia não podiam celebrar a Páscoa; pelo que se chegaram perante Moisés e perante Araão aquele mesmo dia. E aqueles homens disseram-lhe: Imundos estamos nós pelo corpo de um homem morto; por que seríamos privados de oferecer a oferta do SENHOR a seu tempo determinado no meio dos filhos de Israel? E disse-lhes Moisés: Esperai, e ouvirei o que o SENHOR vos ordenará." (Números 9:6-8)A tristeza e a frustração invadiu muita gente. Afinal, a festa da Páscoa acontecia somente uma vez por ano, e, era precisamente nessa altura que ficavam impossibilitados de a celebrar. Pior que tudo, havia a consciência de que tal acontecia sem que eles pudessem ter controlo sobre as circunstâncias. Que fazer então? Sabiamente, Moisés deixou que Deus dissesse como haviam de agir:
"Então, falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém entre vós ou entre as vossas gerações for imundo por corpo morto ou se acharem jornada longe de vós, contudo, ainda celebrará a Páscoa ao SENHOR. No segundo mês, no dia catorze, de tarde, a celebrarão: Com pães asmos e ervas amargas a comerão. Dela nada deixarão até à manhã e dela não quebrarão osso algum; segundo todo o estatuto da Páscoa, a celebrarão." (Números 9:9-12)A solução divina não se fez esperar. Quem estivesse impossibilitado de celebrar a Páscoa por causa de uma questão de impureza ritual, ou porque não tinha conseguido chegar ao local de celebração no tempo prescrito, tinha uma segunda oportunidade para o fazer: num mesmo dia 14 do mês, também ao crepúsculo, mas no segundo mês do ano, e não no primeiro. Esta era a grande mudança: Para as pessoas que estavam naquelas circunstâncias, Deus mantinha inalterada a forma de celebrar a Páscoa, todos os requisitos enunciados no Egipto se mantinham, mas a festa avançava 1 mês.
Ora, isto muda a retórica de Constantino. Há aqui um aspecto crucial: quem tinha assistido ao primeiro evento, quem tinha estado presente no primeiro mês do ano, no 14 de Abibe, não repetia a sua celebração. Sendo assim, a afirmação do Imperador peca pela falta de precisão (ou conhecimento?): um judeu não celebrava duas Páscoas. Ele tinha, isso sim, a oportunidade de o fazer noutra data, divinamente estabelecida, se a impossibilidade não decorresse de desleixo ou falta de zelo. Era precisamente esse factor, a falta de zelo, que, pelo contrário, era fortemente punido por Deus:
"Porém, quando um homem for limpo, e não estiver de caminho, e deixar de celebrar a Páscoa, tal alma do seu povo será extirpada; porquanto não ofereceu a oferta do SENHOR a seu tempo determinado; tal homem levará o seu pecado. E, quando um estrangeiro peregrinar entre vós e também celebrar a Páscoa ao SENHOR, segundo o estatuto da Páscoa e segundo o seu rito, assim a celebrará; um mesmo estatuto haverá para vós, assim para o estrangeiro como para o natural da terra." (Números 9:13-14)
Ezequias e o "milagre" da segunda oportunidade
A Páscoa era, para os judeus, um encontro com Deus. O próprio Senhor exigia do Seu povo (Êxodo 34:18-26; Lev. 23:4-21; 33-44; Deut. 16:1-17) que viesse às festas, que não aparecesse de mãos vazias, e que viesse com espírito de agradecimento. Nesse contexto, a "segunda Páscoa" era, obviamente, a "segunda oportunidade" para o fazer. Mais do que isso, era a oportunidade para não perder a oportunidade. Pesach Sheni é inclusão, é encontro, é corpo, é aliança.
Ezequias foi um dos maiores reformadores de Israel. Quando subiu ao poder, o Templo estava fechado e servia como armazém. Os levitas estavam espalhados pelo país, cuidando dos seus próprios interesses, e tinham abandonado a sua vocação por falta de meios de subsistência. Entre os sacerdotes grassava a indiferença. Os homens, religiosos ou não, estavam longe de Deus, muito pelo exemplo que vinha do trono. Após ter limpo, purificado, consagrado e reaberto a Casa de Deus, (II Crónicas 29), Ezequias estava determinado em levar o povo a encontrar-se com Ele. Pelo facto de os sacerdotes não estarem santificados em número suficiente, a Páscoa não pôde ser celebrada no devido tempo (II Crónicas 230:1-3). Então, usaram o tempo da "segunda oportunidade", celebrando-a um mês depois (cap. 30). E a afluência foi enorme (vv.12,13). Mais do que isso, a segunda oportunidade gerou um sentimento de vergonha entre os religiosos, uma grande vontade de renovar alianças com Deus, de emendar o caminho, de retomar os compromissos abandonados (vv. 15-17).
Como cristãos, acreditamos numa realidade da Páscoa diferente desta. A nossa Páscoa não se rege por estes factores da "primeira aliança", porque entendemos ter já avançado para uma "aliança nova" em Cristo – Ele sim, a nossa Páscoa – (I Coríntios 5:7b), entendimento que os judeus não subscrevem. Os "Constantinos" modernos continuam a existir e a pregar, e a tentar desviar a nossa atenção daquilo que realmente é importante (por despeito e por desconhecimento). Daí que tenhamos de estar atentos, e a não nos deixar prender por manobras de diversão. Por isso, a boa notícia é que, pela própria natureza de Deus, o Seu cuidado para com o homem não tem fim. Os princípios de Deus, eternos e universais, cercam-nos e estarão sempre presentes à nossa volta, e é neles que nos devemos concentrar e focar os nossos olhos. Acreditamos num Deus que concede segundas oportunidades, e que, da mesma forma que o foi para Israel, Ele continua a querer ser encontro e aliança. O nosso coração, uma espécie de bússola que aponta para a direcção da "nossa verdade", está constantemente a ser monitorizado pelo Deus, que avalia as nossas intenções e os nossos propósitos. De vez em quando, quando nos afastamos da Sua verdade, a que vale, Ele tem de nos conceder uma segunda oportunidade, umas vezes por pura misericórdia, outras vezes para gerar em nós sentimentos de renovação (quiçá de vergonha), como aconteceu com os sacerdotes de Israel. De uma forma ou doutra, a Sua intenção é que caminhemos à Sua vista, bem junto d’Ele, o único lugar onde estamos defendidos dos outros e de nós mesmos.
Eduardo Fidalgo
Quarta-feira, 29 de Abril de 2009
Yom HaAtzmaut – O Dia da Independência
Comemorações dos 61 anos de independência de Israel
Yom HaAtzmaut – O Dia da Independência
"Confiantes no Todo-Poderoso, então, assinamos esta declaração no solo da pátria, nesta cidade de Telavive e nesta sessão da Assembleia Provisória que tem lugar na véspera do Shabbat, no dia 5 de Iyar de 5708, ou seja, 14 de Maio de 1948. Levantêmo-nos para adoptar a Carta Constitucional que cria o Estado Judaico."
A assistência ergueu-se. Um rabino recitou com a voz trémula de emoção uma oração implorando a bênção de "Aquele que nos ajudou até agora". Os membros do Conselho Nacional assinaram, então, um por um, o pergaminho. Os acordes da Hatikvah ecoaram novamente pela sala, sob um silêncio profundo da assistência. Eram 16 horas e 37 minutos. Ben Gurion bateu mais uma vez sobre a mesa e declarou:
"Nasceu o Estado de Israel. A sessão terminou."
Desde aquele 5 de Iyar de 1948 até ao dia de hoje, são exactamente 61 anos. Por determinação do Knesset, desde 1949 que este é um feriado nacional. É a festa nacional do povo judeu, o dia em que foi declarado o estabelecimento de Medinat Israel, o Estado de Israel.
Tal como uma transição, uma passagem do passado para o presente, assim o Dia da Independência se segue ao Dia da Memória, que se celebrou ontem. Mas, se ontem as bandeiras estiveram a meia-haste, hoje estão no topo do mastro.
As comemorações iniciam-se no Monte Herzl, ao começo da tarde. O Monte Herzl situa-se no Centro da cidade de Jerusalém, onde se encontra um cemitério destinado a abrigar os heróis de guerra do Estado de Israel e seus chefes de estado e governo, além de ex-presidentes do parlamento.
Hoje, feriado nacional, o Dia da Independência, facilmente podemos apreciar um número invulgar de bandeiras de Israel nas janelas das cidades. Da mesma forma, há lugar para apresentações artísticas de bandas de música nos jardins e outros tipos de manifestações culturais. Fogos de artifício, paradas militares e navais, assim como a ocupação dos locais mais florestados para pic-nics familiares, tornam este dia um pretexto de convivência sadia entre todos, com a íntima consolação de viverem, finalmente, os dias em que a oração "Para o ano, em Jerusalém!" se tornou uma realidade permanente.
Eduardo Fidalgo
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Yom HaZikaron – O Dia da Memória
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No tempo de Samuel, o último dos "Juízes", ultrapassa-se o patamar da simples representação tribal (ainda que ela se mantenha), e é com Saul que se inicia o período da monarquia, num reino único e de carácter nacional. Este reino, iria, no entanto, dar origens a dois outros: Israel ao norte e Judá ao sul, após divergências internas que tiveram a sua origem em questões de impostos. O reino do norte chegou ao fim no séc. VIII a.C. e o do sul, o reino de Judá no séc. VI a.C., com Zedequias. A perda do Templo de Salomão, foi, também, a grande contrariedade para este povo, que, ainda que exilado na Babilónia, vê Ciro, rei persa, promover o regresso à sua terra, dando-lhe também garantias de liberdade na reconstrução do Templo. Caberia a Zorobabel fazê-lo, para, cerca de 500 anos depois, Herodes o aumentar e o dotar a uma opulência e dimensão proverbiais. Contudo, estas não duraram muito, já que Tito, no ano 70, se encarregou de acabar de vez com esse lugar tão significativo da vida espiritual de qualquer judeu, e ainda hoje objecto dos seus sonhos. Em 135, Adriano desfere o golpe final numa terra onde os judeus deixam de ser bem-vindos, muda-lhe o nome, muda-lhe o destino.
A partir daí, são dezoito séculos de tentativas de restauração, de reconhecimento e de regresso. São episódios de sobrevivência, de luta, de utopia, de sofrimento, de luto e de dor. Homens notáveis, resistentes, heróis e sábios nascem e desaparecem, geração após geração. Todavia, sempre, em tudo o que foi vivido e em todos os que o viveram, uma frase continuou a ecoar através dos anos, uma frase que funcionou como esperança, quando muitas vezes não havia razões para ter esperança: "Para o ano, em Jerusalém!"
Num dia em que as bandeiras ficam a meia-haste, Israel reúne-se em torno da sua memória. São lembrados todos aqueles que tombaram, todos os que sofreram e os que se sacrificaram, todos os que contribuíram para um Israel hoje possível, dentro da Terra ou na Diáspora. Todos os soldados, civis, homens, mulheres e crianças que ajudaram a construir Israel com o seu sangue. Num gesto de reconhecimento todo o país pára e fica em silêncio. Por dois minutos, como se de um único e grande shoffar se tratasse, as sirenes lamentam-se. Israel lembra-se e está grato.
Eduardo Fidalgo
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Segunda-feira, 27 de Abril de 2009
Novo DICIONÁRIO DO JUDAÍSMO PORTUGUÊS
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NOVO > Dicionário do Judaísmo Português
500 entradas diferentes, 582 páginas, uma equipa de 65 investigadores estudou a presença judaica em Portugal e os judeus de origem portuguesa no mundo. O resultado é este 'Dicionário do Judaísmo Português', obra com coordenação de Lúcia Liba Mucznik, José Alberto Tavim, Esther Mucznik e Elvira de Azevedo Mea.
Além de personagens e factos históricos, desde o século V, o livro contém entradas sobre festas religiosas, rituais e instituições. Inclui um glossário de termos hebraicos e índices onomástico e geográfico.
«O Dicionário do Judaísmo Português que agora se apresenta, procura dar uma imagem abrangente e sistematizada da presença judaica em Portugal e da presença e actividade dos judeus de origem portuguesa no mundo», esclarecem os coordenadores da obra. «O nosso objectivo é reunir e divulgar de forma sintética conhecimentos actuais sobre o assunto, e proporcionar ao público em geral um instrumento de referência até aqui inexistente», adiantam.
Cada entrada remete para uma bibliografia essencial que o leitor interessado em explorar o tema de forma mais ampla pode consultar. «Conscientes de que o tema é bastante vasto e complexo, esperamos que esta obra contribua para suscitar o interesse e o desenvolvimento dos estudos judaicos em Portugal e, em geral, sobre os judeus portugueses», referem os responsáveis.
Editorial Presença
P.V.P.: 45,00 €
Data 1ª Edição: 07/04/2009
Nº de Edição: 1ª
ISBN: 978-972-23-4092-2
Nº de Páginas: 584
Dimensões: 185x245mm
Peso: 1340g
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Terça-feira, 21 de Abril de 2009
Dia do Holocausto - A Memória e o Futuro
A prova que trouxeram do inferno lê-se em braços marcados com números. A simples menção do Holocausto ainda dói, quanto mais falar sobre ele. Dói ainda mais, porém, quando alguns dentro da própria sociedade dizem duvidar que ele alguma vez tivesse acontecido.
Um dia, todos terão partido. Ficará a sua doce memória e o testemunho possível. Mas ficarão outros homens. Uns, capazes de cometer as mesmas atrocidades. Outros capazes de lhes sobreviver. Para que isso não aconteça, como homens, associêmo-nos e digamos também: Holocausto, NUNCA MAIS!!!
– Número estimado de mortos: 50 milhões
– Vítimas Militares: 20 milhões
– Vítimas Civis: 23 milhões
– Judeus mortos: 6 milhões
– Mortos entre a comunidade de ciganos, Testemunhas de Jeová,
homossexuais, dissidentes políticos, deficientes: 1 milhão
– Crianças judias mortas: 1,5 milhões
Tribunal de Nuremberg
Declarações de Rudolf Franz Ferdinand Hoss
Comandei em Auschwitz desde 1 de Dezembro de 1943 e calculo que, pelo menos, dois milhões e meio de pessoas foram mortas nas câmaras de gás, outro meio milhão morreu de fome e doenças. o que faz um total de três milhões de mortos. Este número representa setenta a oitenta por cento de todos aqueles que eram destinados a Auschwitz, pois o resto foi destinado a trabalhar na indústria de armamento ou nas indústrias situadas em outros campos de concentração. Nós matámos, no Verão de 1944, uns 400.000 judeus húngaros em Auschwitz.
O comandante do campo de Treblinka disse-me que tinha morto 80.000 no decorrer de meio ano. A sua missão principal consistia em exterminar todos os judeus procedentes do ghetto de Varsóvia. Usava gás de monóxido, mas não estava muito satisfeito com o resultado do mesmo. Por este motivo, quando construí o campo em Auschwitz decidi-me pelo Zyklon B que introduzíamos nas câmaras por uma pequena abertura nas mesmas. Segundo a temperatura que fizesse, as vítimas demoravam de cinco e quinze minutos a morrer. Sabíamos que haviam morrido quando deixavam de gritar. Esperávamos aproximadamente meia hora antes de abrir a porta e retirar os cadáveres. Os nossos soldados tiravam os anéis e os dentes de ouro às vítimas.
Outra melhoria com respeito a Treblinka foi a de construirmos câmaras de gás nas quais podíamos introduzir 2.000 pessoas ao mesmo tempo, enquanto que as dez câmaras de gás de Treblinka admitiam só duzentas pessoas de cada vez. O modo como seleccionávamos as nossas vítimas era o seguinte: Em Auschwitz trabalhavam dois médicos das SS que examinavam todos os que chegavam ao campo. Os prisioneiros deviam desfilar perante um dos médicos que, imediatamente, adoptava uma decisão. Os aptos para o trabalho eram destinados outra vez ao campo, os outros directamente às câmaras. As crianças de curta idade eram sempre destinadas à morte, visto que devido à curta idade não podiam trabalhar. Com frequência, as mulheres queriam ocultar os seus filhos sob as suas roupas, mas quando o descobríamos mandávamos imediatamente as crianças para as câmaras. Queríamos que toda a acção fosse mantida em segredo, mas o cheiro originado pela incineração dos cadáveres inundava toda a região...»
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Aristides de Sousa Mendes
Infância e adolescência
O ano de 1885 vê nascer em Cabanas de Viriato, Distrito de Viseu, Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, e seu irmão gémeo, César. São filhos de Maria Angelina Ribeiro de Abranches e do juiz José de Sousa Mendes. A sua infância e juventude foi a típica de jovens sem problemas económicos, inteligentes e com acesso fácil à educação. Dessa forma, não foi de estranhar que, com 22 anos, ambos se tivessem licenciado em Direito na Universidade de Coimbra e depois seguissem a carreira diplomática. Aos 23, Aristides casa com a sua prima Angelina. O casal viria a ter 14 filhos.
A carreira política
Em 1910, Portugal vê nascer a República. Aristides é nomeado Cônsul em Demerara, Guiana Francesa. No ano seguinte, e até 1916, é Cônsul em Zanzibar, onde, no entanto, enfrenta problemas de saúde, aliás, da mesma forma que toda a família. Senhor de ideais monárquicos não escondidos, é castigado por causa deles, logo a seguir ao final da I Grande Guerra. Com trinta e seis anos dirige, de forma temporária, o Consulado de S. Francisco da Califórnia, cidade onde nasce o seu 10.º filho, e três anos mais tarde, torna-se Cônsul em S. Luís do Maranhão (Brasil). Depois, passa a dirigir, de forma interina, o Consulado de Porto Alegre (Brasil).
Em 1926, está novamente em Lisboa, desta vez para prestar serviço na Direcção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares, quando tem lugar a revolução militar do 28 de Maio conduzida pelo Marechal Gomes da Costa. Já em estado de Ditadura Militar, é nomeado Cônsul em Vigo (Espanha). No ano seguinte, Portugal vê ser nomeado Ministro das Finanças um homem que anos mais tarde tornaria a vida de Aristides num pequeno inferno: António de Oliveira Salazar. Entretanto, passa pela Bélgica, como Cônsul-geral em Antuérpia. No ano seguinte, consequência não só da conjuntura social mas também pelas qualidades que vinha demonstrando, Salazar torna-se Presidente do Conselho de Ministros do Governo de Portugal. Estava-se longe de imaginar que dentro daquele homem germinava o espírito de um ditador. E, ei-lo que dois anos mais tarde, nomeia Aristides de Sousa Mendes como Cônsul de Portugal em Bordéus. E essa é a nomeação vital para o trabalho que viria a desenvolver.
Surge um Homem ousado
A Península é pródiga em acontecimentos políticos, dentro do formigueiro político em que a própria Europa se tornou. Salazar e Franco assinam o Pacto Ibérico, e, a Alemanha de Hitler invade a Polónia, dando início à II Guerra Mundial. Já a caminho de um controlo absoluto da máquina governativa, Salazar chama a si a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros, para além da Presidência do Conselho, que já detinha. E é então que o Cônsul em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, contrariando as ordens expressas do ditador, passa mais de 30.000 vistos a judeus e outras minorias perseguidas pelos nazis. Salazar não lhe perdoa nunca, porque não era homem para perdoar. Condena Sousa Mendes a um ano de inactividade profissional, para depois simplesmente e sem mais explicações o aposentar de forma compulsiva, e sem qualquer vencimento.
O princípio do fim
Em 1945, a II Guerra Mundial termina com a vitória dos Aliados. Várias são as cartas que Aristides de Sousa Mendes dirige então à Assembleia Nacional, reclamando (em vão) contra o castigo que lhe fora imposto pelo Governo. E tenta, de muitas outras formas, e por outras interpostas pessoas, sem sucesso, que o poder o reabilite, já que com família ainda a seu cargo, e sem salário, é com grandes dificuldades que sobrevive. O recheio da casa aristocrática da sua infância foi vendido peça a peça, e a própria propriedade acabou em miséria. Os últimos anos foram de dificuldade extrema, enquanto uma sociedade política, outrora solidária, lhe virava as costas. Os golpes duros sucederam-se, e, em 1948 morre a sua esposa, Angelina. Um fim triste aproxima-se a passos largos. Pobre, isolado, solitário, doente, extremamente doente, Aristides de Sousa Mendes, morre, em Lisboa, no Hospital da Ordem Terceira, a 3 de Abril de 1954. A classe política, embora caída a ditadura, só em 1988 reconheceu as suas razões. A Assembleia da República e o Governo português procederam, finalmente, à reabilitação oficial de Aristides de Sousa Mendes.
Após a sua morte, um dos seus filhos, Sebastião, escreveu: "Haja o que houver, reivindico orgulhosamente o facto de ter tido a felicidade de ser gerado por um homem desta estatura moral." Nós todos, portugueses, e da mesma forma, deveríamos reivindicar a felicidade e o orgulho de sermos seus compatriotas.
Eduardo Fidalgo
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A LISTA de Aristides de Sousa Mendes - As homenagens de Israel
.A LISTA de Aristides de Sousa Mendes
As homenagens de Israel
— "Como é que se chama aquele senhor que, em Bordéus, nos passou os vistos para podermos chegar a este país?"
— "Chama-se herói, filho. Quem faz o que ele fez por nós só pode ter esse nome." 1
Se quisermos ter uma ideia do reconhecimento que os judeus dispensaram aos actos de Aristides de Sousa Mendes em favor do seu povo, é certo que não os devemos procurar em primeiro lugar na terra de Israel. Isso porque os primeiros e os mais genuínos agradecimentos vieram dos que estiveram em Bordéus, no centro destes acontecimentos. A angústia daqueles milhares de refugiados em França era tão grande, – não só em virtude das fronteiras que se lhes fechavam, mas também devido ao facto de se verem literal e estrategicamente empurrados para a Alemanha – que fez deles pessoas grandemente agradecidas e com uma percepção perfeita da dimensão dos feitos de Aristides. O grande agradecimento começou em cada um dos que tiveram o privilégio de receber das mãos do cônsul o visto para a liberdade. José Jorge Letria, em "Contos de um mundo com esperança", expressa bem essa realidade, ao fixar o diálogo entre uma criança e o pai, ambos em terras lusas, e já longe do pesadelo nazi:
— "Como é que se chama aquele senhor que, em Bordéus, nos passou os vistos para podermos chegar aqui?"
— "Chama-se herói, filho. Quem faz o que ele fez por nós só pode ter esse nome."
Com a carreira de diplomata totalmente destruída por causa da opção que tomara, a vida não se tornou fácil para ele nem para a sua numerosa família. As represálias vindas da primeira figura do poder político em Portugal não se fizeram esperar, e os recursos passaram a escassear de forma dramática. Já próximo dos últimos dias, as três refeições diárias tornaram-se impossíveis de satisfazer. "Tinham falta de tudo, até de leite para o pequeno-almoço" 2.
É então que novamente os corações judaicos lhe agradecem. A Comunidade Israelita de Lisboa estipulou uma verba mensal para ajudar Sousa Mendes, permitindo-lhe que pudesse comer na respectiva cantina, juntamente com a esposa e os seus filhos. São inúmeros os testemunhos dos que ali se cruzaram com ele.
Mas, a atitude irredutível de Oliveira Salazar, abriu a Sousa Mendes as portas à pobreza, que se abateu sobre ele de forma irreparável. Nessa tarefa, Salazar foi o obreiro-maior, aquele que o encaminhou para um fim de solidão e angústia, totalmente imerecidos para quem fez tanto pelos outros, e nada tendo pedido em troca. Sousa Mendes morre a 3 de Abril de 1954, em Lisboa.
Em Israel, David Ben Gurion, primeiro-ministro do país recém-formado, acaba por tomar conhecimento dos actos deste homem em favor do seu povo. As informações vieram pela voz de judeus norte-a
Em 1966, o mesmo Yad Vashem toma a iniciativa de cunhar uma moeda comemorativa, onde se lê: "A Aristides de Sousa Mendes, o povo judeu reconhecido." No verso da medalha, a inscrição do Talmude: "Quem salva uma vida, salva a Humanidade."
No sul de Israel, no Neguev, foram plantadas 10.000 árvores em memória de Aristides: uma árvore por cada judeu que se estima que ele salvou. Ao norte, a cidade de Tel-Aviv também o recorda, num bairro nobre da cidade, onde há uma rua com o seu nome.
Na Bíblia, no livro de Provérbios, em 3:27 lê-se: "Não detenhas dos seus donos o bem, estando na tua mão poder fazê-lo." Felizmente que Israel soube dizer "obrigado".
"Mas estes judeus, que ainda estão vivos graças ao sacrifício dele, são uma homenagem à sua acção. Se cada um se recordar do homem que lhe prestou socorro, e viver uma vida inspirada nos princípios de Sousa Mendes, terá conseguido tornar realidade o sonho dele." (Harry Ezratty, in Jewish Life).
Eduardo Fidalgo
1 – in "Contos de um mundo com esperança", José Jorge Letria, Lisboa, Texto Editora, 2003, Excertos adaptados
2 – in "Aristides de Sousa Mendes, Um Herói Português", José-Alain Fralon, Editorial Presença, p. 96.
Segunda-feira, 20 de Abril de 2009
O Cônsul Ousado
"A única coisa necessária para que o mal triunfe, é que os homens não façam nada." – Edmund Burke (1729 - 1797)
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Era chegada a altura de Aristides de Sousa Mendes tentar o impossível.
Recordou-se que, quando regressava a Portugal de carro, para evitar os engarrafamentos na ponte entre Hendaia e Irun, costumava passar a fronteira franco-espanhola num outro sítio.
Por que não havia de tentar novamente?
Mandou os refugiados que o rodeavam seguirem-no. Conduzia o carro devagar. O estranho cortejo chegou a um posto fronteiriço, cujos soldados ficaram a olhar para eles, embasbacados. Felizmente não dispunham de telefone, nem tinham ainda recebido as novas instruções de Madrid acerca do encerramento das fronteiras.
Sousa Mendes, do alto sua sua imponência – e continuava a tê-la, apesar das roupas amarfanhadas, dos sapatos cheios de pó, do rosto cansado, dos cabelos despenteados – disse aos espanhóis: "Sou o cônsul de Portugal, estas pessoas viajam comigo, todos têm passaportes em boa e devida forma, como podem verificar; sejam então simpáticos e deixem-nos passar".
O incrível aconteceu: Passaram.
in "Aristides de Sousa Mendes – Um Herói Português", José Alain Fralon, pp. 73-74, Editorial Presença
Aristides de Sousa Mendes - Para que nos servem os Heróis?
Para que nos servem os heróis?
Momentos que não são ficção
Jerusalém, Fevereiro de 2005, Museu do Holocausto, Yad Vashem. São 10 horas da manhã, e no imenso edifício em que se situam os serviços de acolhimento aos visitantes, algumas centenas de pessoas já se cruzam, preparando-se para a visita, ou complementando-a desde logo com informações que retiram dos expositores, apresentados em vários idiomas. No entanto, a cena mostra-se bastante irreal. Porque, embora as pessoas sejam em número elevado, e o movimento seja vivo, a impressão que tenho é a de que estou a assistir a um filme mudo, ou então que ensurdeci de repente. Na verdade, ainda que a maior parte dos visitantes sejam jovens e adolescentes de escolas em visita de estudo, propensos a uma actividade naturalmente mais solta, o certo é que o ruído produzido é mínimo, quase parecendo que alguém rodou um hipotético botão do volume na sala. Respira-se respeito. Não posso deixar de pensar que muitos daqueles miúdos de mochila às costas irão ver o seu nome de família escrito em algumas paredes e memoriais do Museu, pela pior das razões: eles viveram o Holocausto.
No balcão de informações, atende-me uma senhora com um sorriso q.b., o necessário e suficiente. Pergunto-lhe em que parte dos jardins fica "a árvore de Aristides de Sousa Mendes". Olha-me, lança um "Ôh!" involuntário que a parece transportar para um plano de maior respeito ainda, enquanto mergulha num mapa do Museu. Entendeu que venho por Aristides, porque também sou português. E, enquanto me traça num mapa, com uma esferográfica, o caminho que terei de fazer até à árvore (ver foto) , amavelmente vai falando do homem que, das 30.000 vidas que salvou, cerca de 10.000 pertenciam ao seu próprio povo.
Lisboa, Julho de 2008, átrio da estação do Metropolitano do Parque. São 8 horas da manhã, e o átrio da estação é cruzado em todas as direcções por passageiros que começam o seu dia de trabalho. À direita de quem entra, a meio caminho das bilheteiras, uma coluna de pedra com sensivelmente um metro e oitenta de altura chama a atenção pelo buraco que a atravessa de lado a lado quase à altura dos olhos. Iluminada por uma lâmpada que aponta para o interior do bloco, é possível ver-se uma medalha que ostenta o nome de Aristides de Sousa Mendes.
De máquina fotográfica em punho, sou logo marcado por uma solícita funcionária que me informa que "as fotografias dentro das instalações do Metro não não permitidas". "São ordens!". Obediente, guardo a "arma", e passo à abordagem da "informação". "Por que está a medalha ali?", "Há alguma relação de Sousa Mendes com o Parque?". "Porquê o Metro?" *. A funcionária vai justificando que "trabalha ali há já algum tempo, mas que não sabe muito acerca daquele senhor". A conversa torna-se difícil, porque, para além da evidente esterilidade que a rodeia, as pessoas que entram no átrio persistem em querer atropelar-nos. Afastamo-nos para um canto, para me aperceber então que não sendo mais nós o estorvo, passou a sê-lo a coluna, que, entretanto, aguentava firme no meio do caminho dos que queriam servir-se das máquinas. Não pude deixar de notar que, durante toda esta aventura, ninguém parou ou sequer abrandou, com curiosidade para se certificar do conteúdo da coluna de pedra. E alguns questionários improvisados acerca do assunto, mostraram-me que quase ninguém sabe que naquele átrio se encontra uma medalha de homenagem a Aristides de Sousa Mendes.
O mais fora do edifício que me foi possível, tirei um boneco da "homenagem portuguesa" a este nobre português (ver foto). Pobre Aristides. Em Israel é um herói (re)conhecido. No seu próprio país, é um "atraso de vida". Pobres de nós...
Eduardo Fidalgo
* No 26 de Março de 1995, em Lisboa, a Fundação, "Pro Dignitate" e a administração do Metropolitano de Lisboa homenagearam Aristides de Sousa Mendes, na Estação Parque. Com efeito a estação é dedicada à Declaração Universal dos Direitos do Homem. O Memorial está situado no átrio de entrada da estação. Esta obra, da autoria do escultor João Cutileiro, consiste numa coluna paralelipipédica em pedra-lioz contendo, no interior de uma abertura cilíndrica que a atravessa de lado a lado, uma medalha representando a silhueta de "um Homem Só" simbolizando a cruzada solitária da figura heróica que foi Aristides de Sousa Mendes.
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